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Diário de Bordo - Projecto "História para continuar"

Quarta-feira, 05.01.11

Iniciarei hoje a publicação do "diário de bordo" do projecto teatral que estou a desenvolver na ESTE - Estação Teatral, aqui pelo Fundão. Espero desta forma poder partilhar convosco o passos deste processo. A data de publicação irá variar da data em que foram efectivados os registos, dependendo sempre da possibilidade que tenha de acesso à net. Igualmente vos indico que estes textos são escritos de um so jorro, sem grandes cuidados de construção. Grande abraço a todos!

 

03-01-2011

À beira de começar

Primeiro ensaio. Reunião de toda a equipa para definição de questões práticas – horários de trabalho, afinação do cronograma, espaço de trabalho. Definimos que nesta primeira fase do projecto iremos procurar criar um esboço do espectáculo com aproximadamente 30 minutos, bem como a realização de uma pequena oficina antes da apresentação propriamente dita.

O Ricardo (encenador do prejecto) faz uma breve apresentação sobre a forma como pretende iniciar o processo de trabalho. Tendo em conta que o projecto se baseia no cancioneiro tradicional da Beira Baixa, pretendemos não uma reconstituição etnográfica mas um espectáculo que parta da cultura local, das tradições e vivências desta região.

Região extremada esta: clima extremo, morfologia geográfica inigualável em Portugal, onde as distâncias entre os “grandes” centros urbanos é muita e de difícil acesso. Iremos investigar as tradições e hábitos deste povo, procurando o quotidiano, o profano das pessoas. Um dos modos de o conseguir, para além da consulta das diferentes fontes, será a visita às aldeias da região, as suas festas e o contacto com as “personagens” que aí habitam. Procuraremos, como afirmou o Ricardo, conhecer ”que rugas, que marcas de vida” estão presentes naqueles que pretendemos conhecer e partilhar com os espectadores   

A visão que tenho desta zona, tendo apenas estado a habitar no Fundão durante dois meses (como professor de Expressão Dramática) não é muito diferente da que tinha antes deste período. A minha mãe era originária de Trancoso, o que me permitiu desde sempre um contacto com o “lado de lá” da Serra da Estrela. Sempre pensei que esta zona da Gardunha fosse em tudo semelhante – a dureza do trabalho rural que se reflecte nas pessoas, a importância dos terrenos agrícolas, a bruteza das emoções – sejam elas de amor ou de ódio. Recordo sempre a história que o meu avô Abel me contava de um homem que era muito bruto com tudo e todos. Um dia o seu filho estava muito triste e choroso, o que levou a mulher a pedir-lhe que tivesse um acto de carinho para animar o petiz. Ele aproximou-se do filho, fez-lhe uma festa na cabeça e sorrindo disse-lhe: “Ai menino que te arranco os olhos!” Sempre parti do pressuposto de que a Beira Baixa fosse em tudo semelhante.

Curiosamente, o meu pai é um alentejano de Marvão, distrito de Portalegre. Todos conhecemos o lado brincalhão de todos os alentejanos, o seu optimismo perante as adversidades – “podia ser pior…”. Resumo esta perspectiva alentejana com a forma como o meu pai costuma elogiar um bom prato: “olha que não está nada mau, hã?”. Como transformar uma frase cheia de palavras com carga negativa numa partilha de alegria com os outros…

Mesmo antes de começar a investigar sobre o povo da Beira Baixa, consigo perceber que a Gardunha não é nem uma coisa nem outra. Tenho a sensação de que será um cruzamento destes dois “mundos”. Reconheço-me. Do topo da montanha consigo avistar um “mundo” que, ao contrário do que pensava, não me é distante. Até a geografia me quer mostrar esta minha face que nunca abordei: do topo da Gardunha consigo ver a montanha de Marvão e, virando-me 180 graus, a serra da Estrela.  

 

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publicado por Filipe Eusébio às 00:39





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