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23.11.2012

Sexta-feira, 23.11.12

Tendo em consideração que iríamos deambular pelo espaço de olhos fechados, decidi começar pelo oposto, ou seja, deitar-me no chão. Ainda ouço os passos do Mário a colocar-se para começar. Consciencializo que, quando todos começámos, quase que não hé som, quase não existe um ruído. A minha “tripanhada” produziu um som. Questiono-me se terá sido o estômago. Novamente silêncio. Penso que será uma boa altura para me levantar. Recordo a biomecânica, visualizo a posição a que vou chegar. Aguardo por um impulso interno para a executar esse movimento. Quando sinto esse ímpeto, levanto-me num único movimento continuo e preciso. Após estar de pé, consciencializo-me que estiquei a perna esquerda no movimento de levantar. Começo a sentir os ouvidos como se estivesse debaixo de água, sempre com um pequeno zumbido. Deduzo que tinha sido do movimento repentino.

Ouço alguém a passar no corredor. Consciencializo-me que, por existir menos ruído hoje, e depois da sessão de ontem, os sons saltam mais à vista. Corrijo-me: saltam ao ouvido, pois os olhos não ouvem. Decido virar para a esquerda e começar a caminhar. Sinto-me confiante a caminhar, ainda mais do que ontem pois conheço bem o espaço. Apercebo-me que estou a “cantar” internamente uma música na cabeça ao mesmo tempo que pensava sobre a confiança. “My propeller” dos Artic Monkeys. Decido parar a caminhada pois calculo estar próximo da parede do fundo. Decido confirmar com a mão direita. Confirma-se o que pensava. A Lucília fez um ruído que não consigo identificar Calculo que seja o ranger do soalho. Ela repete-o. Defino que ruídos que já saiba o que são, passarão a ser considerados acidentes, caso contrário não farei outra coisa. Continuo a “cantar” a mesma música na cabeça.

Decido verificar qual o ruído que as minhas unhas fazem ao bater na parede. Começo a vaguear com as costas das mãos na parede, produzindo sons com as unhas. Recorda-me pingos de chuva. A Lucília (calculo eu) começa a fazer outro ruído, como que a acompanhar o meus. Terminamos em fade-out.

Sem consciência, começo a lançar o corpo contra a parede, como no exercício de mergulhar e emergir da parede. Consciencializo-me deste facto. Censuro-me por o estar a fazer. Censuro-me por me ter censurado. Denoto que é em tudo semelhante ao que já tínhamos feito no aquecimento pois em ambos os olhos estavam fechados. Decido parar o movimento. Decido voltar a caminhar. Sinto a transferência de peso de um pé para o outro. Decido parar. Volto a tocar com a mão direita onde calculo que esteja a parede. Consciencializo-me que hoje consigo “visualizar” o espaço dentro do campo de visão. Sinto os meus dedos encostados à parede. Decido viajar com os dedos contra a parede. Os movimentos que faço são circulares, portanto decido imaginar que estou a acompanhar o traçar de uma linha com os dedos sobre a parede. Este movimento começou a envolver todo o corpo, criando posições de extensão. Quando toco com os dedos na ombreira da porta, suspendo o movimento. Retiro os dedos da parede.

Quando decido mudar de direcção, uma mão toca-me no peito. Decido disponibilizar-me para a experiência do outro, não interferindo. Os dedos do outro caminham pelo peito, pescoço e queixo. Tocam-me na barba. Sinto os pêlos da barba a mexerem. Os dedos dessa mão prendem os pelos do bigode, Repete essa acção física (queixo a bigode). Pela forma dos dedos, calculo que seja a Lucília. Ela retira a mão da minha face. Decido aguardar para verificar se ela terminou. Decido tentar encontrar o corpo dela. Utilizo as mãos para pesquisar o espaço mas… ela desapareceu!

Ouço a voz da Lígia lá fora, provavelmente no corredor. Decido que tenho de fazer outra acção. Viro o corpo em direcção da fonte de luminosidade que atinge os meus olhos e caminho para ela. Sinto confiança no andar e paro onde considero que será o limite. Estico o braço para me apoiar na parede lateral que calculo lá estar. Penso: “em cheio!”. Sinto-me contente por este facto. Apercebo-me que estou a olhar para uma janela mas que não consigo ver nada. Volto a consciencializar que ainda estou a “”cantar” a mesma música desde o início da sessão. Censuro-me por ter ouvido esse cd na viagem para Coimbra, Censuro-me por me censurar.

Controlo a tendência dos meus braços “sentiram” de bater nas minhas costas por esta censura, conforme desenvolvemos nos verbos cerebrais. Defino que não me posso esquecer disto. Volto a caminhar pelo espaço. Ouço a Lucília e o Mário a rir. Decido explorar o nível do chão. Sinto os músculos das coxas contraídos. Decido que não é boa ideia, que limitará a experiência e volto a levantar-me. Ouço ruído de passos. Alguém me toca na barriga. Depois começa a tentar fazer-me cócegas com as duas mãos. Noto que o meu corpo está a reagir mas não como a cócegas, apenas reacção a toques separados. Percebo que não é apenas a Lucília, pois a mão que toca no meu lado esquerdo é diferente na forma e ritmo do toque. Deduzo que seja o Mário. Decido fugir daquele local e vingar-me. Paro o movimento de fuga. Caminho em direcção ao local onde calculo que a Lucília esteja. Não a sinto. Continuo a caminhar para a encontrar, mas sem sucesso. Apercebo-me da luminosidade vinda da janela grande. Decido esconder-me atrás da portada e esperar que um deles passe para lhe pregar um susto, tipo “buu”. Confirmo a minha posição tocando com a mão esquerda na portada. Coloco-me paralelo à portada. Decido esperar. Tento controlar o barulho da minha respiração, de forma a não me denunciar. Aguardo.

Noto que não consigo escutar nenhum dos dois. Decido tentar caminhar sem fazer qualquer ruído. Pouso suavemente cada um dos pés, sempre controlando a respiração. Ainda ouço a música na minha cabeça. Repito a mim mesmo para não me desconcentrar. O meu tornozelo esquerdo estalou. Suspendo o movimento. Continuo sem os conseguir escutar. Retorno à caminhada. Agora estalou um dedo do pé direito. Volto a suspender o movimento. Concluo que não é possível caminhar sem fazer qualquer som. Visualizo os ninjas, como nos filmes, todos vestidos de preto, cara coberta, como nos filmes, a caminharem sem fazerem ruído. Agora imagino a mesma coisa, mas com os pés deles sempre a estalar: “crack, crack…crack” Rio-me internamente por este pensamento parvo. A Lucília fungou. “AAHAHHH! É para ali que ela está!” Caminho nessa direcção, muito cautelosamente. Em determinado momento, ouço um respirar que me parece relativamente próximo. Paro e decido bater uma palma estridente. Bato a palma e decido rápidamente recuar. Quando paro, ouço os pés de alguém a caminhar na minha direcção. Decido recuar ainda mais. Choco com os gémeos em qualquer coisa. Rapidamente me apercebo que são os blocos de madeira. Afasto-me deles. Uma mão agarra-me, depois duas. Ao tentar libertar-me, volto a chocar contra os blocos, quase caindo e me sentando neles. Ao erguer-me, decido desistir e voltar a disponibilizar-me para cobaia. Reconheço que é a Lucília.

Sinto as duas mãos a tocar-me no peito, passando depois para as costas. Essas mãos fazem pressão nas costas. Decido acompanhar a força que essa mãos estão a fazer, deitando-me de barriga para baixo muito lentamente, quase em flexão. Fico deitado e abro os braços, tipo Cristo. A Lucília troca as mãos pelos pés e vai-me calcando. É confortável, relaxante. Olha, também o Mário aqui está. Ele está a tocar-me na coxa esquerda. A Lucília ri. Emito som ao respirar, em cada expiração. O som altera conforme a intensidade do “calcanço” da Lucília. Consciencializo-me que ela está a divertir-se com isto, portanto faço “render o peixe”. Penso que, para os surpreender, deveria tentar “desaparecer”. Mal sinto um alívio no peso do pé a Lucília, levanto-me tipo corredor de 100m e corro. Paro. Eles riem e falam. Finito.

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publicado por Filipe Eusébio às 16:39

22.11.2012

Quinta-feira, 22.11.12

Onde está o G de Ego no Cérebro?

O mais correcto seria chamar ao ego… eco. Seria bem mais correcto, sem dúvida!

Seriam impossíveis os egos que vejo se cada um deles não tivesse um local, uma área onde reverberar e, consequentemente, ecoar. Egos que vivem fechados sobre si mesmo, a ouvirem-se, a confirmarem-se… até mesmo a enganarem-se. Acreditem, há pessoas que vivem apenas dentro da sua cabeça.

 


Muitas vezes, dentro da cabeça, tento fazer companhia a mim mesmo. Pergunto-me: então, o que é que nós vamos fazer? Depois percebo que “nós” não existe. Que, de certa forma eu também não existo. E tu?Também vives dentro de ti mesmo ou simplesmente és?

O “ser” é não ter cabeça onde nos abrigarmos, é não estarmos connosco…É como ser-se um “sem-abrigo cerebral”, calcorreando constantemente todas

as ruas, sempre em andamento, em andamento… Vivendo cada dia… Cada dia como… cada dia como se fosse…. Quero dizer, quando uma pessoa simplesmente é, deixa de estar… de estar em si. Não fica fora de si, Apenas desaparece. Evapora-se. É isso… abandona-se. Vive.


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publicado por Filipe Eusébio às 16:17

21.11.2012

Quarta-feira, 21.11.12

Eu sei que deveria dormir sobre estas lembranças, transformá-las em memória com raízes, pelo menos oito horinhas por dia, mas não consigo. Deito-me na cama e fico comigo mesmo, a construir novas ideias, a reviver o dia que passou, a censurar-me, a censurar-me por me censurar… e as horas passam e o sono não vem. E assim apenas fico com lembranças.

Lembranças são aquelas coisas que se dão quando não sabemos o que dar: dá lembranças ao teu tio! Toma, é apenas uma lembrança” Apenas uma lembrança… Quando damos algo que é mesmo importante, damos o presente. E o presente torna-se memória, em que outra coisa se poderiam transformar? Memórias bem presentes. Passo o tempo a lembrar-me das coisas ou a rememorar, contudo memorizar é-me bem mais difícil. Apenas memorizo factos, datas, números de telefone, esse tipo de coisas… mas memorizar, aquilo que realmente deveríamos considerar memorizar… falho muito.

Felizmente tenho calma.

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publicado por Filipe Eusébio às 18:44





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